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Notícias | 10 de Março de 2023
Novos critérios de avaliação de projetos ampliam acesso de pesquisadores ao Sirius

Primeiro processo de seleção elegeu 125 propostas de pesquisa; Nordeste foi a região do País com a maior taxa de aprovação: 48,6%.

O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização supervisionada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), acaba de divulgar a lista de projetos científicos contemplados com horas de uso das instalações de pesquisa do Sirius (https://lnls.cnpem.br/sirius/), a maior e mais complexa infraestrutura de pesquisa do Brasil.

A primeira chamada oficial para a realização de experimentos no Sirius, aberta no final do ano passado, adotou novos critérios de avaliação, mais inclusivos e colaborativos, e recebeu 334 propostas, a maior parte de instituições brasileiras, mas também de instituições da América Latina, América do Norte, Europa e Ásia. Cerca de 25% das propostas recebidas foram submetidas por novos usuários, ou seja, por pesquisadores que nunca haviam utilizado as instalações abertas disponíveis em nenhum dos quatro laboratórios nacionais que fazem parte do CNPEM.

Dentre as propostas recebidas, 125 foram selecionadas nesta primeira chamada regular para o Sirius: 108 submetidas por pesquisadores brasileiros e 17 por pesquisadores de instituições estrangeiras. “A abertura regular das primeiras estações de pesquisa do Sirius à comunidade científica é o marco mais importante do projeto, na minha opinião”, avalia o diretor geral do CNPEM, José Roque da Silva. “Essa chamada mobilizou pesquisadores de 15 países e 17 estados brasileiros, nas mais diversas áreas do conhecimento, como biologia, geologia, engenharia, física e química”.

Processo de avaliação inédito

As propostas submetidas para o Sirius foram selecionadas por meio de um processo que privilegia o mérito científico, avaliado através de sistema de revisão por pares com duplo anonimato. A alocação final de tempo de feixe nas estações de pesquisa será realizada considerando também as distribuições geográficas e a diversidade de áreas científicas.

Para que todas as propostas fossem avaliadas por múltiplos pontos de vista de especialistas, foi adotado um sistema de avaliação distribuída, onde todos os proponentes da chamada também se tornaram potenciais revisores para a mesma chamada, dentro das suas áreas de atuação.

Pelo menos cinco revisores avaliam cada proposta. “Os avaliadores não tiveram acesso aos nomes dos proponentes e suas instituições de origem. Pronomes de gênero também não constam das propostas de pesquisa. Para atender ao anonimato, os autores foram instruídos remover qualquer linguagem que identificasse pesquisas publicadas anteriormente por seu grupo, para eliminar qualquer viés dos revisores”, enfatiza o diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), Harry Westfahl Jr.

Resultados

Como resultado deste novo processo de seleção, e estimulados pela vanguarda e ineditismo do Sirius, muitos pesquisadores selecionados nesta chamada terão a oportunidade de utilizar as instalações científicas do CNPEM pela primeira vez. Dentre os 82 usuários que submeteram proposta sem nunca ter realizado experimentos no CNPEM, 27 (33%) aprovaram propostas nesta chamada.

Das 125 propostas selecionadas nesta primeira chamada regular para o Sirius, 108 foram submetidas por pesquisadores brasileiros, de 17 diferentes estados. Um dos destaques foi o aproveitamento de propostas da região Nordeste, que obteve aprovação de 48,6% das propostas submetidas. Por coincidência, foi o exato percentual de aproveitamento de propostas enviadas por pesquisadores do exterior.

A região Sudeste, que submeteu o maior volume de propostas à aprovação, obteve um percentual de aprovação de 37%. Em seguida aparecem as regiões Sul e Centro-Oeste, com percentuais de 31% e 25% de propostas aprovadas, respectivamente. A região Norte não obteve aprovação de propostas nessa primeira chamada.

Considerando um total de 930 turnos de pesquisas, os pesquisadores brasileiros terão acesso a 780 turnos, enquanto os usuários do exterior vão receber 150 turnos de trabalho.Veja o relatório completo:

Aprovados

Nesta primeira chamada foram aprovados projetos de 90 pesquisadores, provenientes de 25 instituições diferentes, sendo 39 vinculados à universidades estaduais, 42 de universidades federais, dois provenientes de instituições particulares e 25 são pesquisadores de organizações da sociedade civil.

Os projetos selecionados contemplam temas de pesquisa de interesse estratégico para o Brasil, com aplicações que buscam solucionar problemas relacionados à Agricultura e produção de alimentos, Biotecnologia, Bioengenharia, Exploração Mineral e produção de energia renovável e sustentável, Gestão de resíduos poluentes. No campo da Saúde foram selecionados projetos de investigação de doenças cardiovasculares, virais e câncer, entre outros.

Entre os projetos selecionados, 38 já contam com apoio de financiamento de organizações de fomento públicas e privadas do Brasil e exterior.

Daniela Santos Anunciação, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), foi uma das pesquisadoras que teve seu projeto aprovado para o Sirius. Ela usará a linha de luz Carnaúba para estudar processos de enriquecimento do feijão com nanopartículas de selênio. Segundo ela, o raio X gerado no Sirius será importante para “investigar como essas nanopartículas de selênio se comportam em um meio vegetal e como influenciam o metabolismo da planta em termos de nutrientes, de forma que seja possível propor seu uso com base nos ditames da segurança alimentar e ganho nutricional”. Daniela destaca que os recursos oferecidos no Sirius representam um “divisor de águas no trabalho e no desenvolvimento biotecnológico acerca da temática que estamos explorando.”

Guilherme Fadel Picheth, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem trabalhado no desenvolvimento de vacinas de rápida adaptação contra novas variantes da Covid-19. Segundo ele, que teve sua proposta de pesquisa aprovada para a linha de luz Cateretê, o Sirius ajudará a responder “se todas as partes da vacina estão no lugar certo” e, para isso, espera poder contar com a alta resolução, rapidez nos ensaios e com o “amplo suporte quanto ao tratamento de dados e design experimental” oferecido por esta infraestrutura.

Fernanda Gervasoni, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, estuda processos químicos e físicos em regiões profundas da Terra, entre 300 km e 700 km de profundidade, através de inclusões de minúsculos minerais que costumam ficar aprisionados no interior de diamantes. Ela espera que as linhas de luz do Sirius forneçam dados de alta resolução sobre a heterogeneidade química desses minerais, possíveis transições de fases e oxidação em que foram formados. “A expectativa é que esses dados inéditos aprofundem a compreensão sobre a evolução química e física da Terra”.

Jenaina Ribeiro Soares, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), quer explorar a interação entre novos materiais sustentáveis observando as mudanças em sua estrutura quando estão em escala muito próxima da dos átomos, em detalhes 1000 vezes menores que um fio de cabelo (nanomateriais). Dominar a engenharia desses materiais pode permitir a fabricação de produtos mais resistentes, sustentáveis. “É uma honra realizar experimentos no Sirius, uma vez que é uma oportunidade única de utilizar equipamentos exclusivos, com capacidades além do convencional e disponíveis em pouquíssimos lugares do mundo”.

A equipe de doutorado em Engenharia Mecânica do pesquisador Felipe Faglioni, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolve novos materiais compostos de cerâmica e grafeno com propriedades de alta resistência a impactos. Eles foram os primeiros pesquisadores a usar a linha Ema, do Sirius, projetada para observar amostras em condições extremas. O objetivo é entender como cada componente contribui para a performance mecânica em condições muito difíceis de se obter de forma combinada. “As medições foram possíveis, não só devido à infraestrutura, mas também ao preparo e à proatividade do corpo de funcionários do CNPEM, que auxiliaram na preparação de amostras e prepararam a linha de luz para nossa medida utilizando a expertise adquirida ao longo dos últimos anos”.

Linhas de luz em operação no Sirius

A primeira chamada regular de pesquisas para o Sirius contempla seis linhas de luz, como são chamadas suas estações experimentais. Essas linhas operam de forma independente e simultânea e já passaram pela fase de comissionamento científico – quando pesquisadores testam parâmetros da máquina e as técnicas disponíveis em experimentos reais. As linhas de luz e os experimentos disponíveis nesta chamada são:

A submissão de propostas de pesquisa à linha Manacá segue a modalidade Fast Track – esta linha de luz está aberta para submissões em fluxo contínuo, sem qualquer interrupção, conforme adotado anteriormente durante a fase de comissionamento científico.

Atenção: A próxima chamada regular de propostas de pesquisa para o Sirius já tem data para acontecer: de 3 a 24 de abril. A chamada irá contemplar as mesmas linhas de luz incluídas nesta primeira chamada.

Para o futuro: novas linhas

Além das 6 linhas abertas para a operação regular, ainda este ano mais 5 linhas receberão usuários no modo de comissionamento científico, quando usuários poderão realizar experimentos que ajudem a avaliar os parâmetros da linha:

MOGNO: Micro e nano-tomografia de raios-X
PAINEIRA: Difração de Raios X em Policristais
CEDRO: Dicroísmo Circular
SABIÁ: Espectroscopia de absorção e técnicas de Imageamento de raios X moles

Adicionalmente, a linha SAPÊ (Espectroscopia de Fotoemissão com resolução angular) receberá propostas regulares para utilização do espectrômetro offline, ainda sem conexão com a fonte de luz síncrotron.

Financiamento e próximos passos

É importante ressaltar que o Sirius é um projeto estratégico de Estado, cujo impacto para o Sistema de CT&I é maior quanto mais linhas de luz estiverem disponíveis. Desse modo, o apoio público no financiamento para manutenção e ampliação das suas linhas de luz é fundamental para proporcionar mais oportunidades de avanço em pesquisas, contribuindo para a soberania nacional e o desenvolvimento científico e tecnológico do país.

De acordo com José Roque da Silva, o CNPEM está animado, assim como toda a comunidade científica, com a perspectiva de descontingenciamento e liberação de recursos do FNDCT. Esses recursos permitirão que a fase 1 do Sirius, que prevê 14 linhas de luz, seja concluída em breve, e que a fase 2, com mais dez linhas de luz (que já consta do Plano Plurianual PPA 2020-2023), possa ser iniciada. “Desde o início do projeto Sirius, mesmo nos momentos de grandes dificuldades orçamentárias, o MCTI sempre apoiou e compreendeu a importância do Sirius para o País. Estamos bastante confiantes que a atual gestão do MCTI irá seguir pelo mesmo caminho”, afirma o diretor geral.

Sobre o CNPEM

Ambiente sofisticado e efervescente de pesquisa e desenvolvimento, único no Brasil e presente em poucos centros científicos do mundo, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) é uma organização privada sem fins lucrativos, sob a supervisão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Centro opera quatro Laboratórios Nacionais e é o berço do projeto mais complexo da ciência brasileira – Sirius – uma das fontes de luz síncrotron mais avançadas do mundo. O CNPEM reúne equipes multitemáticas altamente especializadas, infraestruturas laboratoriais globalmente competitivas e abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores em parceria com o setor produtivo e formação de investigadores e estudantes. O Centro é um ambiente impulsionado pela pesquisa de soluções com impacto nas áreas de Saúde, Energia e Materiais Renováveis, Agroambiental, Tecnologias Quânticas. A partir de 2022, com o apoio do Ministério da Educação (MEC), o CNPEM expandiu suas atividades com a abertura da Ilum Escola de Ciência. O curso superior interdisciplinar em Ciência, Tecnologia e Inovação adota propostas inovadoras com o objetivo de oferecer formação de excelência, gratuita, em período integral e com imersão no ambiente de pesquisa do CNPEM. Por meio da Plataforma CNPEM 360 é possível explorar, de forma virtual e imersiva, os principais ambientes e atividades do Centro, visite: https://pages.cnpem.br/cnpem360/.

Nota: do total de 334 propostas enviadas, 11 foram destinadas a experimentos em linhas de luz que irão entrar em operação em condições de testes, chamada fase de comissionamento. Portanto, as porcentagens descritas acima foram calculadas com base em um total de 325 propostas (descontando-se as 11 propostas alocadas em comissionamento).

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