Em 19 de fevereiro de 1990, o LNLS inaugurava o LINAC da primeira fonte de luz síncrotron do Hemisfério Sul
Assim começava um comunicado para a imprensa que divulgava a cerimônia prevista para 19 de fevereiro, comemorativa da conclusão da primeira etapa de implantação do LNLS. O objetivo do que ocorreria naquele dia era afirmar junto à sociedade, em especial à comunidade científica, que a equipe de jovens entusiastas, reunida a partir de final de 1986, já reunia competência para desenvolver, construir e vir a operar a primeira fonte de luz síncrotron do hemisfério sul – objetivo central e motivador da criação do Laboratório.
O LNLS começara a ser implantado efetivamente no início de 1987. Uma casa na rua Girassol, no bairro Santa Cândida, zona urbana de Campinas, era a “sede”. A partir de junho, um galpão de 1.400 metros quadrados comprado pelo CNPq, a meio quilômetro da casa, passaria a acomodar a equipe. Mas o espaço era exíguo para abrigar todas as atividades técnicas, que incluíam desenvolver protótipos de componentes para a fonte de luz. A “solução” foi alugar um terreno contíguo e ali, num galpão pré-moldado de alumínio, se instalou o acelerador linear de elétrons, construído pela equipe pioneira do LNLS em dois anos e meio. Daquele período pioneiro participaram inúmeros físicos, engenheiros, técnicos, administradores, muitos deles ainda atuantes no campus do CNPEM.
A cerimônia foi marcada para às 10:30 horas. Anunciou-se a presença do Presidente da República, José Sarney, que deixaria o cargo dia 15 de março (era a data em que tomava posse o candidato eleito em outubro do ano anterior). Por volta do dia 17 de fevereiro, a vinda do presidente ainda era incerta e acabou não se confirmando. Compareceram o Ministro da Ciência e Tecnologia, Décio Leal de Zagottis, do Presidente do CNPq, Crodowaldo Pavan, e, também do Diretor-Geral do CERN – Laboratório Europeu de Física de Partículas, Carlo Rubbia, Prêmio Nobel de Física em 1984. Inúmeros outros dirigentes importantes também estiveram presentes, dentre eles o ex-ministro Renato Archer, que tão logo assumiu o Ministério da Ciência e Tecnologia, em 15 de março de 1985, criou condições objetivas para deslanchar a implantação do LNLS.
O comunicado para a imprensa esclarecia que o acelerador linear é “um equipamento com a finalidade de dar energia a partículas subatômicas que, além de permitir a realização de variada gama de pesquisas de materiais, é também um componente indispensável para o funcionamento de um acelerador circular, o primeiro do hemisfério sul, que está sendo projetado no próprio LNLS e será construído nos próximos quatro anos.”
No artigo “Síncrotron – a primeira luz”, publicado na edição nº 62 da revista Ciência Hoje, em março de 1990, o diretor do LNLS, Cylon Gonçalves da Silva, destacava: “A etapa concluída demonstra que é possível, para uma equipe brasileira, dentro de prazos competitivos em nível internacional, projetar e construir um equipamento cujas dimensões modestas escondem uma grande complexidade”. E descrevia todos os subsistemas que compunham o acelerador linear, desenvolvidos pela equipe cuja idade média não ultrapassava os 27 anos. O líder da equipe técnica era Ricardo Rodrigues, na época com 36 anos.
O acelerador linear de elétrons – com 10 metros de comprimento e energia de 50 MeV (milhões de elétron-volts) operou na sede provisória até 6 de junho de 1995. No dia seguinte, começou a ser desmontado e trasladado para o campus definitivo do LNLS. Agora em versão definitiva com 18 metros de comprimento e energia de 100 MeV, o acelerador linear cumpriria a função de injetar feixe de elétrons no anel de armazenamento de elétrons de 93 metros de circunferência, formando o conjunto chamado de fonte de luz síncrotron. Até o encerramento da operação da fonte, em junho de 2019, o acelerador linear de elétrons (posicionado no subsolo do prédio do anel) cumpriu seu objetivo no equipamento pioneiro do LNLS que propiciou, por quase 23 anos, a realização de milhares de experimentos científicos.
Isso era, exatamente, o que se previa no artigo publicado na Ciência Hoje, que relatava o fato motivador daquela simbólica cerimônia de 19 de fevereiro de 1990, no galpão do bairro Santa Cândida: “O Laboratório já é um centro de desenvolvimento da tecnologia de aceleradores de partículas. Em quatro anos, será um Laboratório Nacional dedicado à pesquisa avançada em materiais, aberto a pesquisadores das mais variadas instituições brasileiras, como idealizado por Roberto Lobo e colaboradores. Também atuará como um centro internacional, aberto a pesquisadores de todo o mundo e, em particular, da América Latina”.
As circunstâncias políticas e econômicas do país – mais do que as adversidades técnicas inerentes a um projeto de elevada complexidade tecnológica – contribuíram para dilatar o prazo citado de quatro anos. Foram necessários um pouco mais de seis anos para declarar concluído o projeto de implantação do LNLS, com a abertura ao uso por pesquisadores da primeira fonte de luz síncrotron construída no hemisfério sul, fato que ocorreu em 2 de julho de 1997, mas isso é outra memória a ser relembrada.
Roberto Medeiros
Esta foi minha primeira tarefa como Assessor de Comunicação do LNLS. Coincidência ou não, meu número de registro profissional é 13.223 e só agora, ao escrever essa MEMÓRIA, dei-me conta da data do Comunicado para a Imprensa: 13 de fevereiro (2).
Harry Westfahl Jr. ocupava a diretoria científica do LNLS desde 2013, e coordena o projeto e construção das estações experimentais do Sirius
Tinha a capacidade de unir entusiasmo, criatividade, conhecimento técnico e científico