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Ricardo Rodrigues observa amostras metálicas no laboratório de materiais do LNLS, em 2014. (Foto de Julio Fujikawa)

Notícias | 7 de Janeiro de 2020
Obituário: Antonio Ricardo Droher Rodrigues (1951 – 2020)

Tinha a capacidade de unir entusiasmo, criatividade, conhecimento técnico e científico

Faleceu em Campinas, dia 3, o engenheiro e físico Ricardo Rodrigues (Antonio Ricardo Droher Rodrigues), líder da equipe de engenharia que desenvolveu e está finalizando a construção dos aceleradores do Sirius, a segunda fonte de luz síncrotron do Brasil, atualmente em fase de testes no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

Nascido em Curitiba em 10 de novembro de 1951, Ricardo assumiu a liderança técnica do projeto pioneiro que dotou o Brasil da primeira fonte de luz síncrotron do Hemisfério Sul, desenvolvida e construída de 1987 a 1997 no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), hoje um dos laboratórios nacionais do CNPEM.

A formação acadêmica inicial, na Universidade Federal do Paraná, foi em Engenharia Civil (1974). Entre 1976 e 1979, fez o Doutorado em Física no King´s College University of London,  orientado por Michael Hart, com a tese “X-Ray Optics for Synchrotron Radiation”. Inicialmente foi professor no curso de Física da UFPR, e ali iniciou atividades no Grupo de Óptica de Raios-X e Instrumentação (GORXI), depois renomeado para Laboratório de Óptica de Raios-X e Instrumentação (LORXI), ainda em funcionamento naquela universidade.

Em 1984 Ricardo Rodrigues foi para o Instituto de Física e Química da USP, em São Carlos, convidado para o grupo de óptica daquele instituto. Seu dinamismo, criatividade e capacidade de propor soluções para aplicação de raios X em experimentos científicos desde logo chamavam a atenção de todos que com ele trabalhavam.

Não por acaso, Ricardo Rodrigues envolveu-se desde o início com o Projeto Radiação Síncrotron, iniciado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Desse projeto resultaria a criação do LNLS, implantado em Campinas a partir de 1987. Ali, sob a liderança técnica de Ricardo, uma equipe formada por jovens recrutados em universidades tornou realidade um sonho que parecia impossível: projetar, construir e operar uma fonte de luz síncrotron, equipamento até então existente apenas em países desenvolvidos, destinado a impulsionar pesquisas científicas em áreas da física, química, biologia, engenharia de materiais e outras.

Foram necessários dez anos de trabalho até que, em 1997, o Brasil se juntasse a um grupo seleto de países, sendo o primeiro de Hemisfério Sul a ter uma fonte de luz síncrotron. Esse equipamento foi projetado sob coordenação de Ricardo Rodrigues e operou até 2019. Com a construção da fonte de luz síncrotron, uma comunidade hoje estimada em mais de seis mil pesquisadores passou a fazer experimentos científicos no LNLS.

Em 2001 Ricardo Rodrigues afastou-se do LNLS por motivações pessoais e criou uma empresa, a SKEDIO Tecnologia.  Nesse período, contribuiu para projetos que se estendem por um amplo espectro de aplicações, que vão desde a área de artes plásticas à construção civil e área de saúde, como exemplos.

Em 2009, ao assumir a direção do LNLS, Antonio José Roque da Silva persuadiu Ricardo Rodrigues a retornar ao Laboratório. A missão agora era desenvolver uma nova fonte de luz síncrotron no Brasil, inicialmente uma máquina de terceira geração. A comunidade de usuários exigia há algum tempo um novo equipamento, capaz de atender novas e crescentes demandas científicas. O nome de Ricardo Rodrigues era inconteste entre todos que sabiam da sua relevância no projeto da primeira fonte de luz.

Exemplo demonstrativo da capacidade criativa e entusiasmo de Ricardo Rodrigues para materializar sonhos aparentemente impossíveis ocorreu em 2012, quando um Comitê Científico Internacional formado por especialistas em máquinas síncrotron veio ao CNPEM. Convocado especificamente para avaliar o projeto então concebido, o Comitê recomendou a construção de um equipamento mais sofisticado, na vanguarda tecnológica, capaz de se manter competitivo no cenário internacional por muitos anos. Nascia desse desafio o que viria ser a fonte de luz Sirius. “Lembro do Ricardo, em um jantar com os integrantes do Comitê, e sua reação àquela proposta, dizendo um ‘topo!’ imediatamente. Esse era o tipo de desafio que Ricardo Rodrigues não rejeitava”, afirma José Roque, atual Diretor Geral do CNPEM e diretor do projeto Sirius.

Assim, de 2012 a 2019, coube a Ricardo liderar a equipe que desenvolveu um conjunto de soluções inovadoras, que colocaram Sirius como um dos líderes mundiais entre as fontes de luz síncrotron.

Em dezembro, com o câncer diagnosticado em meados do ano, Ricardo Rodrigues viu a Fonte de Luz Sirius em fase de testes bem-sucedidos de funcionamento, inclusive com um experimento-teste para obtenção de uma imagem tomográfica, comprovando o sucesso do projeto, que coordenou até poucos dias antes do seu falecimento.

Ricardo Rodrigues tinha a capacidade de unir entusiasmo, criatividade, conhecimento técnico e científico e encontrar soluções inéditas exigidas para construir equipamentos de alta sofisticação tecnológica. Ainda mais importante, era um formador de pessoas. Avesso a formalidades acadêmicas, reconhecido mundialmente como um criativo solucionador de problemas, Ricardo Rodrigues deixa saudades. Sua trajetória servirá de constante inspiração para os que, no Brasil, se dedicam a ciência, tecnologia e inovação.

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