A pesquisadora do CNPEM, Ingrid Barcelos (Divulgação)
Ingrid Barcelos é a oitava pesquisadora a vencer o prêmio que, desde 2018, homenageia cientistas mulheres e ações pela promoção da diversidade na Física
A pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), Ingrid Davi Barcelos, foi anunciada como vencedora do prêmio Carolina Nemes de 2025. O prêmio, concedido anualmente pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), reconhece trajetórias de destaque de mulheres cientistas e ações em prol da promoção da diversidade na Física.
Com uma trajetória profissional reconhecida por diversas iniciativas, como o Prêmio Para Mulheres na Ciência – Categoria Física (2021), concedido pela L’Oréal-UNESCO-ABC, o B-MRS Early Career Woman Scientist Prize (2024), e o Prêmio CAPES Futuras Cientistas (2024), a conquista do Prêmio Carolina Nemes tem um sabor especial para a pesquisadora, natural de Belo Horizonte.
“A professora Carolina Nemes foi docente do Departamento de Física da UFMG, onde fiz toda a minha graduação, mestrado e doutorado. Embora eu não tenha tido aula diretamente com ela, era alguém que eu encontrava pelos corredores. Uma mulher fantástica, jovial, exímia pesquisadora, que orientava dezenas de alunos simultaneamente. Ela foi um exemplo para nós, mulheres, e sua figura remete a uma parte importante da minha formação acadêmica”, conta.
Ingrid integra o corpo de pesquisadores do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do CNPEM, onde atua em estudos relacionados às propriedades vibracionais de materiais na nanoescala, óptica de campo próximo e efeitos de polaritons em materiais bidimensionais. Além disso, a pesquisadora lidera o Laboratório de Amostras Microscópicas (LAM) — infraestrutura dedicada à fabricação e preparação de amostras avançadas que são analisadas nas linhas de luz do Sirius — e coordena uma equipe de nove pessoas, das quais sete são mulheres.
A carreira de Ingrid Barcelos também envolve atividades de incentivo a diversidade na ciência, sobretudo na Física, área considerada de grande predominância masculina.
A pesquisadora atua como tutora do programa Futuras Cientistas no CNPEM — iniciativa que aproxima alunas e professoras da rede pública das áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática — e, em 2024, teve sua atuação reconhecida pelo Prêmio CAPES Futuras Cientistas como tutora representante da Região Sudeste no módulo Imersão Científica de 2023, realizado no CNPEM. Integra, ainda, a rede Mulheres na Nanociência e, desde 2023, profere palestras em escolas públicas da cidade de Campinas (SP).
“O meu envolvimento com atividades de incentivo à participação de mulheres na física tem muita relação com a minha própria trajetória. Durante a formação, tive poucas referências femininas na área. Na graduação, por exemplo, tive apenas uma professora. E só fui ter contato com uma pesquisadora negra na física quando eu já trabalhava aqui no CNPEM. Por isso, sei o quanto é importante divulgar a presença feminina na ciência e incentivar que novas gerações de mulheres sigam essas carreiras. Afinal, é difícil imaginar ser algo que você nunca viu”, explica Ingrid.
A trajetória da pesquisa ilustra os desafios que muitas mulheres enfrentam ao conciliar a vida pessoal com a carreira científica. Grávida do primeiro filho, ela decidiu ser mãe em um momento mais maduro da vida, quando já lidera uma equipe estruturada. Para ela, viver a maternidade sem renunciar à ciência é também uma forma de ampliar referências. “Saber que estou cercada por uma rede de apoio me deixa bastante segura. Isso me dá tranquilidade para viver a maternidade sem abrir mão da ciência — e, quem sabe, inspirar outras mulheres a verem que é possível ocupar esses espaços”, afirma.
Ingrid Barcelos receberá o prêmio Carolina Nemes, no final do mês de julho, durante a Assembleia Geral Ordinária da Sociedade Brasileira de Física.
Criado em 2008, o Prêmio Carolina Nemes é concedido pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) a mulheres físicas em início de carreira, cujo trabalho de pesquisa tenha contribuído de forma significativa para o avanço da física ou do ensino de física no País. O objetivo da premiação é reconhecer as contribuições de mulheres para o desenvolvimento da física brasileira, além de colaborar para a redução da desigualdade de gênero na área.
O nome do prêmio homenageia a física, professora da UFMG e pesquisadora Ana Carolina Nemes, falecida em dezembro de 2013. Nemes foi pioneira na construção de um formalismo que permitiu incluir efeitos térmicos em dinâmicas caóticas, clássicas ou quânticas. Também foi responsável por reativar a pesquisa em óptica quântica teórica no Departamento de Física da UFMG, tendo seu grupo sido escolhido pelo Centro de Pesquisas da Universidade do Novo México para sediar uma reunião internacional, parcialmente financiada por aquele centro.
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) abriga um ambiente científico de fronteira, multiusuário e multidisciplinar, com ações em diferentes frentes do Sistema Nacional de CT&I. Organização Social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o CNPEM é impulsionado por pesquisas que impactam as áreas de saúde, energia, materiais renováveis e sustentabilidade. Responsável pelo Sirius, maior equipamento científico já construído no País. O CNPEM hoje desenvolve o projeto Orion, complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos. Equipes altamente especializadas em ciência e engenharia, infraestruturas sofisticadas abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores com o setor produtivo e formação de pesquisadores e estudantes compõem os pilares da atuação deste centro único no País, capaz de atuar como ponte entre conhecimento e inovação. As atividades de pesquisa e desenvolvimento do CNPEM são realizadas por seus Laboratórios Nacionais de: Luz Síncrotron (LNLS), Biociências (LNBio), Nanotecnologia (LNNano) e Biorrenováveis (LNBR), além de sua unidade de Tecnologia (DAT) e da Ilum Escola de Ciência, curso de bacharelado em Ciência e Tecnologia, com apoio do Ministério da Educação (MEC).
Dos 443 projetos submetidos, 161 serão desenvolvidos no segundo semestre de 2025, nas dez linhas de luz já abertas para pesquisadores
Houve manifestações de interesse vindas de 650 instituições de ensino, com expectativa de quase 50 mil visitantes